De soslaio olhava em redor. Com medo de ser notada. Menina de 9 anos que passava os seus dias entre a escola e as suas bonecas. Cedo brincava às famílias. A família que construía em silêncio, no seu quarto, era diferente da sua. Nessa família imaginária, o Pai e a Mãe no seu quarto beijavam-se, beijavam os seus dois filhos e quase sempre eram alegres. Também conversavam. E por vezes tinham ideias diferentes. Não era como na sua família verdadeira que de esguelha comtemplava. A sua Mãe e o seu Pai não falavam e quando falavam, gritavam. Beijinhos a si e aos seus irmãos só quando algum fazia anos. Apenas “- Faz isto, faz aquilo”. “-Não te esqueças disto e lembra-te daquilo.”. Os três irmãos na vida real brincavam. Mas porque os seus dois irmãos eram rapazes a menina do laço rosa tinha que brincar com carrinhos e comboios. Chorava escondida, atrás do sofá, porque não queriam com ela brincar às bonecas nem às famílias. Na sua família secreta tudo era diferente. Aos sábados e domingos todos saiam juntos de bicicleta. Passeavam pelo jardim. Corriam. Cantavam e brincavam. Até ficarem extenuados. Momento em que todos caiam na relva, ‘ao monte’, e o Pai e a Mãe os abraçavam e beijavam… a menina do laço rosa era feliz.
Comentários
Enviar um comentário